NÓIS

O que nos aproxima não era só o sexo, mas também a companhia. Era mais do que a atração carnal, era o papo que poderia começar falando de comida, mudar pra filosofia, falar, inclusive, de futebol, e terminar na cama, com um xingando, instigando e provocando o outro. Achava que era lenda quando uma mulher pedia pra virar puta por uma noite e apanhar. Não era. Entre nossas conversas que despertavam o tesão e nos fazia usar a própria mesa de jantar além de outras partes da casa, ela deixava que as fantasias saíssem da boca e acabassem realizadas.

A verdade é que várias vezes os homens imaginam que a mulher tem um limite. Ela vai ser safada. Sim, ok. Mas uma hora ela para. Errado. Tudo bem se a sua namorada é sem graça e não topa algumas coisas. Vocês podem estar perdendo um lado divertido ou falta uma pontinha de persistência, mas depois que eu encontrei minha atual, um mundo novo se abriu. Afinal de contas, elas também podem e devem parar pra ensinar o que sabem e, principalmente, o que gostam de fazer. E ela faz questão disso.

Pro exemplo, nunca tinha parado para ler o Kama Sutra. No primeiro dia que a gente resolveu transar olhando pro livro na cabeceira da cama, a pedido dela, foi estranho. As pernas dela passavam na minha cara e algumas vezes lembrava da minha infância em que jogava Twist com as minhas primas. E era divertido. Algumas a gente guardou e repete até hoje. São aquelas que consideramos básicas para poder dizer que transamos. Menos quando a gente tá com a vontade à flor da pele e não liga pra posição. É força e jeito juntos e nada que a boa e velha posição de quatro-segurando-o-cabelo não resolva.

Não se importe com o que eu contar. Nelson Rodrigues já dizia que se soubéssemos o que os outros fazem entre quatro paredes, nem nos cumprimentaríamos na rua. E uma outra verdade é que o sexo é, além de um belo esporte que deve ser praticado sem moderação, mas com prevenção, um ato de amor entre duas pessoas. De todos os motivos para fazê-lo, eu ainda prefiro quando posso chamá-lo de "fazer amor" com o meu amor. Fofo.

Agora, mais do que já ser atirada, pra frente, inovadora e diferente de muitas outras pra mim, eu curtia mesmo quando ela pegava a garrafa de Jack Daniel's, colocava um duplo sem gelo e virava. Olhava pra mim com aquela cara de leoa pronta para abater a presa e saciar a fome, e vinha pra cima. Uma vez eu caí de costas no chão. Ela ignorou as minhas dores e, em meio aos gemidos pela queda, me fez gemer sem sentir mais nada além de prazer.

Vai durar, tenho certeza. Não porque a gente se dá bem nesse aspecto. Até porque, uma relação é muito mais do que cama. Vai durar porque a gente se conhece bem e tenta resolver nossas diferenças na base do diálogo. Roupa suja a gente lava em casa. Nenhum amigo até hoje nos viu discutindo. Todos apóiam. Mal sabem que ela é quem manda e desmanda em mim. De vez em quando eu bato porque ela pede, mas quem sempre fica esperando o próximo ataque sou eu.

Ela manda, eu obedeço. E eu não ligo pra isso. Mais uma dose? É claro que eu tô afim.